A COR DE UM LOBO

A COR DE UM LOBO

 

Andando nu pelas estepes,

O lobo era sempre branco,

E oculto em meio às neves,

Não usava o meu tamanco.

 

Rosnando pela ravina,

Meu lobo era marrom,

E detinha a autoestima,

Mas não era o Armagedom.

 

Calado em meio à mata,

Meu lobo via Chapeuzinho,

E o gozo de quem só mata,

Perdura em nosso caminho.

 

Na mata o lobo é negro,

Querendo se passar oculto,

Pois esse é seu segredo,

E por isso ele é astuto.

 

Meu lobo é às vezes mimético,

Durante a sua fome e na caça,

O que lhe faz ser sincrético,

Pois crê que o mato é casa.

 

Eu sou como a cor de um lobo,

Pois sou esse humano de máscara,

Que se adapta ao vale ou morro,

Pois vivo em meio à diáspora.

 

Se eu sofro com a melanina,

É porque não entendo meu solo,

Se nascemos menino ou menina,

Ou se um canguru se faz colo.

 

Não entenderemos peixe e anuro,

Que engolem crias para proteger,

Mas os alevinos nadam no escuro,

Pois no claro moquecas vão ser.

 

Nós, humanos sós, somos frágeis,

Mas em grupo somos um terror,

E os segredos mais engenháveis,

Quando somos enredos do horror.

 

Ter cogumelo de ogiva é desumano,

Mas nós lhe usamos numa guerra,

Que em Hiroshima foi rosa do engano,

Se a paz, que traz morte, só erra.