SE EU PUDESSE LEMBRAR

SE EU PUDESSE LEMBRAR

 

Os meandros do meu tirocínio,

São artefatos das catacumbas,

D'onde eu vejo só morticínio,

Se esvaio em bíblias e runas.

 

O legado que me mantém vivo,

Carrego de todos ancestrais,

Sejam meus ou de quem convivo,

Pois a minha cultura me faz.

 

Se eu pudesse lembrar de tudo,

Eu diria que vi avós e tios,

Seja quando curti o meu luto,

De outrora até quem me pariu.

 

Meu silêncio reclama que fale,

Ou deflore meu léxico guardado,

Mas diga que nunca se calem,

Pois o caos pode ser evitado.

 

Se eu usar o solo com cuidado,

Se eu guardar sementes do fruto,

E plantar num terreno adubado,

Não irei conviver com oleoduto.

 

Se eu viver no melhor habitat,

Encolhendo o convívio de todos,

Talvez nem queira mais viajar,

Pois lá fora pode ser o esgoto.

 

Numa taba ou num clã africano,

Posso ser índio ou preto feliz,

Que vê onça, leão e pelicano,

Sem louvar reis ou imperatriz.

 

Nesse lar que mantém toda vida,

Vou colher e até mesmo ordenhar,

Pois leite e mel me convidam,

Para a vida eu poder celebrar.

 

Não devo matar ou ter avareza,

Pois não sou mais o lobo do mar,

E nem preciso ter álcool na mesa,

Se a uva e a batata eu plantar.

 

Chega de conquistar pra viver,

Se o mundo dá somente um prazo.

E quem não quiser entender,

Será como o orador que é gago.

 

E viver como se fosse em Babel,

Seria mais pesadelo que sonho,

Pois não somos iguais no papel,

Mais iguais pelos cromossomos.