GRITO MUDO

E do brado amordaçado

se fez o estardalhaço

do silêncio

em cerradas bocas.

E porque não me calava ?

Era para me ter

no paradoxo da tua mudez.

Extravasado

das palavras

entorpecidas,

envasado

dos conteúdos

silentes

que tanto preenchiam

ainda incipientes,

mas diligentes,

meus insipientes

recipientes.

E por tantas vezes

quis abraçar-me

ao vazio

sentir tua densidade

invisível.

Desnudar-lhe-ia

de todos os ruidosos

sussurros,

sua silenciosa

substância,

substantivar-me-ia a paz.

Na calada

da atmosfera,

respirava

o que não

precisava ser ouvido

o que nunca foi dito

seria, agora,

olvido.

E como por asfixia,

afônica

a sílaba

tônica

foi se fazendo

afasia.

No terapêutico ócio,

no vácuo

meu grito

inócuo

se recolheu

pálido

cálido ...

estático.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 31/05/2023
Código do texto: T7802379
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