GRITO MUDO
E do brado amordaçado
se fez o estardalhaço
do silêncio
em cerradas bocas.
E porque não me calava ?
Era para me ter
no paradoxo da tua mudez.
Extravasado
das palavras
entorpecidas,
envasado
dos conteúdos
silentes
que tanto preenchiam
ainda incipientes,
mas diligentes,
meus insipientes
recipientes.
E por tantas vezes
quis abraçar-me
ao vazio
sentir tua densidade
invisível.
Desnudar-lhe-ia
de todos os ruidosos
sussurros,
sua silenciosa
substância,
substantivar-me-ia a paz.
Na calada
da atmosfera,
respirava
o que não
precisava ser ouvido
o que nunca foi dito
seria, agora,
olvido.
E como por asfixia,
afônica
a sílaba
tônica
foi se fazendo
afasia.
No terapêutico ócio,
no vácuo
meu grito
inócuo
se recolheu
pálido
cálido ...
estático.