MOMENTO E VALOR

MOMENTO E VALOR

 

As casas antigas tinham quintal,

E lá namoravam horta e pomar,

Com boas ervas em vez de hospital,

E um poleiro com o galo a cantar.

 

Eram lugares de terra molhada,

Brotando minhocas e lá florescia,

Se a cada manhã vinha a passarada,

E naquele cenário tudo era alegria.

 

As flores soltam o pólen ao tempo,

Enquanto aguardavam o mangangá,

E, junto com ele, abelhas ao vento,

Trazendo harmonia e fecundo amar.

 

Em cada manhã que o galo anuncia,

Pois é madrugada no primeiro canto,

O orvalho é prenúncio de nostalgia,

Quando chega o Sol com seu manto.

 

Assim, acordamos para a vida,

Pois ela se renova em cada dia,

E a lua já não é tão atrevida,

Logo após nos gerar fantasia.

 

Meu lamento é a fome do burgo,

Que junta bem mais do que basta,

Como em Roma, Paris ou Hamburgo,

Que gerou praga do rato que mata.

 

Tudo é melhor quando há equilíbrio,

Nem tanto de luz ou de escuridão,

Sem gente tosca em busca de brilho,

Mas só no caminho comum ao irmão.

 

No dia que olhei para a história,

Vi que a vitória é uma obsessão,

Pois não há convívio na glória,

Pois ela pertence ao bicho papão.

 

As versões são de quem tem poder,

Pois o resto é estrume ou enzima,

Como foi o Pau Brasil sem vencer,

Pois não querem nem mais a resina.

 

Meu valor é coisa ou só servidão,

Com o descarte do meu corpo inerte,

Se juventude é o açoite da ilusão,

E a velhice não há quem conserte.