TEMPO TRANSPARENTE
TEMPO TRANSPARENTE
Se eu for transparente, talvez me entendas,
E talvez compreendas o que vou lhes dizer,
Mas sei o que achas, se estou à venda,
Na rua ou nas tendas, pra te convencer.
Se me ponho desnudo, verás o meu corpo,
E se falo o que sinto, te digo se amo,
Mas cheio de veludo, sou mero escopo,
E enquanto eu minto, sou só minuano.
Esse vento que passa, ecoa de mim,
Enquanto escrevo palavras pra ti,
Talvez seja o que penso como querubim,
Mas serei diabo, se me escondo de ti.
Então, me critique e fale o que sente,
Não guarde rancores ou mesmo o amor,
Desfaça o novelo ou o cabelo com pente,
Não use a corrente de um torturador.
Seja a bondade como um colo de mãe,
Respeite esse cesto que até leva água,
Por onde construa seu forno de pães,
Com sucos que jorram do seio da alma.
Busque o anteparo no que já existe,
Mas sonhe com tudo que guarda o tempo,
Se nele há passado e o futuro insiste,
Num modo segredo que chega no vento.