SEMENTES DO CÉU
SEMENTES DO CÉU
Uma ave sentiu fome e sede,
E buscou pelos frutos maduros,
Só depois viu a minha rede,
Onde eu estava desde o escuro.
Era uma manhã de outono,
Com todo contraste da hora,
Pois a noite foi de sono,
Mas estou acordado agora.
Vi caírem as sementes do céu,
E notei serem dos passarinhos,
Sob essa terra de leite e mel,
Que eu cuido com tanto carinho.
Tinha adubo e aragem recente,
E eu fiz o melhor com o solo,
Pois colhi um milharal decente,
Que serviu pra canjica e bolo.
Reparem a cobrança da fome,
Que nos faz ir para cozinha,
E agora sou eu quem consome,
Mas eu lembro da ave sozinha.
Mais tarde cada semente cresceu,
E surgiram majestosas árvores,
Que trouxeram esperanças do céu,
Pra que tudo de bom nunca tarde.
Amanhã terei as ariscas raízes,
A buscar suas águas no riacho,
Me brindando de sabor e matizes,
Como vinhas pendendo em cachos.