COM A ANCESTRALIDADE

COM A ANCESTRALIDADE

 

Quando jovem, a noite era medo,

E me alegrava com os pirilampos,

Ou com velas acesas desde cedo,

Ao orar pra Jesus no meu canto.

 

O oratório era ao lado da sala,

E também era perto da cozinha,

Me lembrando estar na senzala,

Ou o refúgio numa camarinha.

 

Eu aprendi com a ancestralidade,

A louvar quem me trouxe ao mundo,

Desde o início dessa humanidade,

Ou do nosso Universo fecundo.

 

E, por tudo isso, prezo orixás,

Mesmo que também siga Cristo,

Pois bons exemplos vão me guiar,

Seja agora ou desde que existo.

 

Meu consolo é ser filho do céu,

Pois a vida não é só nesse lar,

Ou também se tenho um corcel,

Ou meu carro for nave estelar.

 

Só lamento que o povo é venal,

Esquecendo o era do escambo,

Onde eu ia ter voz num jornal,

E ser lido não só vez em quando.

 

Mesmo assim continuo um poeta,

Pois eu chego pra te incomodar,

Ao dizer que há touro em Creta,

Com seu corpo humano a andar.

 

Mas se lá perto tem pirâmides,

Nesse lado também vão achar,

E sempre haverá quem reclame,

Ou concorde com o meu falar.