JOVENS E ATORES

JOVENS E ATORES

 

Um jovem nunca sabe o que quer,

E medo do escuro é transtorno,

Ou se deseja um fruto qualquer,

Sem saber quando terá conforto.

 

De nada adianta voar em delírios,

Se cada barata lhe aguarda no fim,

Sem compreender o ciclo dos lírios,

Que diz do início e fim do jardim.

 

Tem gente que sofre por desapego,

Sonhando com naves além de Marte,

E vive à procura por um emprego,

Pois não consegue viver da arte.

 

Garotos sobrevivem na adrenalina,

Sem nexo causal do que pode ser,

Se servem de leite e até cajuína,

Ou querem hambúrguer para comer.

 

Vivemos com salame e salsicha,

Consumindo o que for mais fácil,

Sendo atores de barbas postiças,

A querer ser parte do prefácio.

 

Como atores só queremos platéia,

Sem saber o custo do ingresso,

Mas queremos seu ouro e batéia,

E poder celebrar ter progresso.

 

Nesse rincão de céu e estrelas,

Somos muito menos que a poeira,

Como artista em meio à procela,

Ou fruta podre do fim de feira.

 

Para ser melhor é preciso luz,

E o tempo que dela se espalha,

Pra saber como existe e conduz,

Um divino exemplar no Valhalla.

 

Noutro tempo vou ser só baobá,

Depois de tanto querer na vida,

Pra poder dar sombra e ensinar,

Mas também curar as feridas.