AQUELE MENINO
Ainda me lembro daquele menino.
Sentávamos no alpendre acanhado,
abocanhado pela ausência de uma melhor arquitetura.
Ele convidava-me a sonhar,
contava estórias quixotescas do seu amanhã,
enumerando moinhos...
Era de uma ingenuidade cativante.
Pedia minha mão para ter o que apertar,
sua alma era famélica,
contetava-se por vezes com as migalhas dos meus dedos,
em outras necessitava que o mundo o abraçasse.
Como podia negar-lhe um afeto ?
Ríamos por horas...
a recorrente alegria camuflava um propósito maior que as mútuas companhias.
Chorávamos também.
As lágrimas lubrificavam as engrenagens enferrujadas pela indiferença dos homens.
Éramos dois em uma única súplica,
buscando se consolarem nas dores um do outro.
Ele me olhava com carência, eu o fitava com refratária esperança.
E íamos cambiando nossas solidões...
Hoje o alpendre está vazio,
a tal arquitetura nunca passou por lá,
apenas deixou um tapete de folhas mortas,
insepultas pelos rudes outonos.
Ainda me lembro dele!
Quando a saudade aperta,
e para lá que vou.
Sentir sua alma
vagar por trás de alguma folha,
perdida no tempo,
no espaço,
... no fragmento do espelho desbotado,
encostado no canto,
que quando o olho, o reconheço.
Ele nunca saiu de lá...