CORPOS EM MUTAÇÃO
CORPOS EM MUTAÇÃO
Sonhar com o fim da vida é luxo,
Pois eu discutia o nosso futuro,
Pontuando a evolução como bruxo,
Com a gamela em um céu obscuro.
Imaginei que seremos tão outros,
Como as estrelas são a evolução,
Desde quando nos deixam afoitos,
Pois são bastilha ou revolução.
Nesse vão revoltado do caos,
Tudo é fôrma de bolo e tempero,
Mesmo quando não sei qual o mal,
Que conflita o bem que empenho.
Ando pela cozinha e o quintal,
E reparo os buracos nas telhas,
Logo vendo as corujas num pau,
Mas a árvore também tem abelhas.
Eu não sei como irei me achar,
Nesse labirinto após o apagão,
Se vou ter permissão de voltar,
Mesmo que seja em nova missão.
Sei que estamos em um limiar,
Como alguém ante a encruzilhada,
Sem saber o que o delta dirá,
Se com a água virá chuvarada.
Sonhei com corpos em mutação,
Mas não tenho certeza de nada,
Só achismo se é só um temporão,
Ou estaremos de volta à estrada.
Somos hoje a nova face do ontem,
Com medo de ser apenas comédia,
Se o delírio de ter nos esconde,
Quem somos nessa louca tragédia.
Serviremos de presa das gárgulas,
Ou seremos só comida de abutres,
Já que tudo depende das válvulas,
Que me diz se são dias inúteis.
Ter propósito é ter esperança,
Mesmo quando temos pesadelos,
Onde o sonho é sermos criança,
Sem lições que cobrem ter zelo.