PÉROLAS DE LÁBIOS NEGROS
PÉROLAS DE LÁBIOS NEGROS
Nós temos os lábios vermelhos,
Mas em ostras podem ser negros,
Mas não são pacíficos espelhos,
Que deixam ver seus segredos.
Se você navegar no Pacífico,
A viver entre tantas tormentas,
Balançando um saveiro idílico,
Verás Crusoé com as comendas.
Na lapela virão pérolas negras,
Até mais que em África errante,
Como conchas de Vênus nas mesas,
Na certeza de um novo instante.
Um pescador pode até ser Maori,
Mas a pérola negra é mais bela,
Como a sua tatuagem mais nobre,
Sendo um manto singelo de fera.
Só aqui, num Brasil que segrega,
Misturando a beleza e a doçura,
A senzala me deu pérolas negras,
Que retrato em poema e loucura.
Só por isso, mulher preta e bela,
Tu és meu conforto e meu solo,
Como lágrima, em gotas de espera,
Ao dizer o que eu sou desse colo.