MENDICÂNCIA
Se eu pudesse por um dia,
Esse amor essa alegria
Eu te juro te daria
Se pudesse esse amor todo dia.
(...)
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Fragmento de "Falando de Amor",
de Antônio Carlos Jobim (1927—1994)
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MENDICÂNCIA
De quando em vez,
pareço-me flertar com a penúria,
recolho-me em mendicâncias
para sonhar com tuas migalhas.
Não pretendo refestelar-me
de ilusões,
apenas um beijo caído
de um olhar complacente,
no desaviso
de quem não se encontra
— tampouco se perde —
nos labirintos das paixões platônicas.
Bem sei
que há um abismo
de sentimentos,
mas os suicidas e os aventureiros
guardam nas entranhas
um gosto pelo desconhecido.
Um saberá o que dizer depois,
já o outro ...
Encontro-me
no meio termo:
assassino-me em resignacões,
teimam em ressuscitar
em refratárias esperanças.
Do desamor,
sou bem resolvido,
morte e vida
se revezam respeitosamente.
Resta-me tratar
esse incômodo desejo de aventura
para quem anda desacompanhado
da necessária coragem.
Talvez um dia isso mude!
Eu lhe roube um beijo...
E da opulência do momento,
eu perceba claramente
o propósito afetivo
de toda mendicância.