DETALHES DO COTIDIANO

DETALHES DO COTIDIANO

 

"Só percebemos detalhes naquilo que raramente vemos. O cotidiano tende a nos embaçar a visão consciente, e já não percebemos a morte chegar."

 

🌜🌚🌛

 

Já tinham eras e eu era o estalactite,

Pendurado na lúgubre e úmida caverna,

Parecendo com o morcego que insiste,

Mas indo ao encontro do colo da Terra.

 

Sei que há demora em contas humanas,

Pois a solidão só insiste nos montes,

Mas sou veloz sem o sol e as chamas,

E colo o minério que a lama esconde.

 

A guerra que empenho é sede de paz,

Porque a voz do meu tempo é o vento,

E quero o semblante de ser quem faz,

Como o rochedo do qual sou lamento.

 

A água eu transpiro como a lágrima,

E tudo que faço o homem não percebe,

Me acham estático, isento de mágica,

Quando sou teatro da corsa imberbe.

 

Eu vejo a luz surgir e cessar,

Eu dou a volta em torno de tudo,

Eu mudo a água do rio de lugar,

Eu sou o suspiro de um tiro mudo.

 

Devemos olhar como um jabuti,

Sem pressa no inverno ou verão,

Se o outono se esvai logo ali,

E a primavera colore a paixão.