COMO A FORNALHA

COMO A FORNALHA

 

Passamos nossos dias sonhando,

Achando que gozamos de crédito,

Mas um dia nos chegam falando,

Que a falência é o descrédito.

 

Sempre pensamos ter amizades,

Mas se esquecem de cada ditado,

Se não contamos as inverdades,

E em abraços sou esquartejado.

 

Entre esses amigos fui Tiradentes,

Despostado por fidegais traições,

Na beira de uma estrada indigente,

Sem ouro e sem direito ao caixão.

 

Tentaram matar-me com o ócio,

Se tudo é veloz na ansiedade,

E aquela estação do equinócio,

Me diz porque ser caridade.

 

Dedicar-se ao próximo é divino,

Mas nem todos têm a compreensão,

E assim, meu descarte, eu estimo,

Satisfaz quem não sabe a missão.

 

Mas, primeiro, ame a si próprio,

Porque esse é nosso maior dever,

Sendo como a fornalha de Orion,

E suas mil estrelas a conceber.

 

Seremos sempre a boa fogueira,

Que se queima para vir aquecer,

Mas se finda como dia de feira,

Se outra feira vai acontecer.

 

Ser como a fagulha que espalha,

Nos diz que a fornalha perdura,

Mesmo quando se acaba a palha,

Mas tem gás pra cozer a verdura.

 

Mas eu quero ser só o tempero,

E com ele eu transmito sabor,

Que me faz ser lembrado e vero,

Pois assim vou deixar meu valor.