Afoito tempo
Pela fresta noto o invólucro do tempo
Sempre afoito, determinado e implacável
Minha mente registra o seu abandono
Turbilhões de fagulhas espocam no ar
Memórias trazidas para lembrar
Voos indecisos nas labaredas da vida
Contemplo o silêncio por entre arvoredo, espinhos e flores
O tatear verdejante de sabores longínquos
Outros nem experimentados
Apenas na mente quase insana, sonhados
Desejos vorazes compõem a alvorada
Coração pequenino na longevidade dos dias
Minúsculo ser em órbita crescente
Passos intermináveis na feitura do existir
Notas sutis em auroras incandescentes
Fugazes assombros e retornos infindos
Memória pendente no passeio ilusório
Viagem soturna, mortífera espiral
Pensamentos transeuntes traduzem a paisagem
Dentro do caracol tênue miragem
O doce vagar de sombras
Efêmero viés sustenta a existência
Sobre a mísera condição humana, o relógio
Sistentáculo de emoções, piscar de olhos
Um aceno, uma dor, um taciturno sorriso
Vozes ecoam ao longe, infinito
Meu coração despedaçado
Grita em batidas descompassadas
Enquanto os olhos se afogam
De um em um segundo
Inundados de lembranças
Afogados na desesperança
E nesse teatro colossal
Já nem meu corpo sinto
Seus movimentos assíncrono
Se desfazem como fumaça
Sumindo com o vento
Em fração de um momento
E voltando para fresta
Onde fito esse tempo
O vejo esvaindo enquanto eu
Prisioneira dessa existência
Sucumbo no breu nessa sentença