PENSAMOS NUM REI

PENSAMOS NUM REI

 

Nosso mundo é sem cercas,

Mas o homem adora muralhas,

E mesmo que carreguem cestas,

Alguns vestem as cangalhas.

 

Pensaram ter rei anarquista,

Mas o burro de carga é assim,

Relincha na beira das pistas,

E se espoja em cada jardim.

 

Numa ópera há burros de Bremen,

Mas no atabaque é couro de bode,

E em cada arco-iris há serpente,

Se no terreiro o corpo sacode.

 

Desde a antiguidade há touros,

Como disfarce de deuses no coito,

E mostra que não são os tesouros,

Que dão o prazer aos afoitos.

 

São estórias de homem ser bicho,

Que se alimentam do imaginário,

Onde o gozo tem grito e suspiros,

Mas os traumas estão no armário.

 

Sempre há tempos de humanidade,

No entremeio de muita barbárie,

Mas tudo é fruto de insanidades,

Ou queremos que Deus nos ampare.

 

Ser humano não quer ser cobrado,

Mas quer ser o juiz ou general,

E dizer quem é livre ou julgado,

Em suspeito entrevero com o mal.

 

Mas ninguém vai saber ao certo,

Quais são os desígnios de Deus,

Mesmo no achismo em prospectos,

Quando, na esquina, há um ateu.