A CHUVA DE REPENTE

A CHUVA DE REPENTE

 

A chuva chegou de repente,

Enquanto o sol se distraia,

Pois era hora do poente,

Se o nascente se foi no dia.

 

Eu logo me vi encharcado,

Por clemência da lua a chegar,

E os sons que chegam molhados,

Com os sapos e rãs a coaxar.

 

Eu vi o capim se deitando,

Era o peso das aguas no ar,

E os relâmpagos escorregando,

Os raios de Zeus ao luar.

 

Eu também vi Iansã dançando,

O balé que nos aguarda morrer,

Mesmo que seja outro o plano,

Que revelo quando vou escrever.

 

Sou poeta, mas Deus é meu rumo,

Mesmo quando enfrento a cérbero,

Ou navego com Caronte o submundo,

Mas com Hades não gasto o verbo.

 

Só declamo querendo os anjos,

Junto com o orixá que me ajuda,

E eu vou a Deus com meu banjo,

Pois só Ele é que nos escuta.

 

Ele sabe de tudo o que penso,

Mesmo quando eu nada reclamo,

Pois o certo é que não convenço,

Sem o bom verbo a quem amo.

 

Posto isso, eu volto à chuva,

Pois a água me traz o perdão,

E permite que o vinho da uva,

Simbolize meu sangue no chão.

 

Eu também quero planta e adubo,

Onde a chuva perdure a escorrer,

Pra caatinga dizer se eu durmo,

Quando há galos no alvorecer.

 

Vou ouvir o cantar dos canários,

E da minha sabiá laranjeira,

Vou tirar o coador do armário,

E passar um café na chaleira.

 

Vou descascar macaxeira na pia,

E ordenhar o leite da cabrinha,

Vou pegar os ovos com uma bacia,

E partilhar o sabor da cozinha.