SEMENTES DO AGORA

SEMENTES DO AGORA

 

Na criação tudo é mais feminino,

Mas o homem teima não entender,

E devora meninas e até meninos,

Pelo medo de perder seu poder.

 

Tão profética foi a vinda de Zeus,

Que sua mãe usou de um estratagema,

Enrolando a pedra que Cronos comeu,

E a vida foi mais do que ovo e gema.

 

Se não fosse as mãos da mulher,

Como seria só ter pais tiranos,

Ou querer ter cultura e talher,

Além de um colo com desenganos.

 

Cada espaço de humana conquista,

Só foi possível com ampla ação,

Pois de nada valia um sofista,

Sem um bom argumento ou inação.

 

De que vale nós termos fortunas,

Ou certidões de um dom benfazejo,

Se teimamos em suprir lacunas,

Com as dunas do mar sertanejo.

 

Nada é fácil vivendo em conflito,

Se a espécie não mais se comporta,

Pois só querem ganhar no grito,

O que já nem plantam na horta.

 

Tudo agora depende dos outros,

Mesmo eu tendo adubo e a terra,

Pois fizeram de nós gafanhotos,

Que devoram como a besta fera.

 

Somos sementes do agora,

Sem lembranças ou futuro,

Sem ter lua e Sol ou hora,

Como um escravo soturno.

 

Certamente é o meu resumo,

Derivado da falta de amor,

Pois é tudo só pra consumo,

Do que não se sabe o valor.