Agonia
No esvair desse tempo
Tempo que nem vivi
Estive viva
Mas fingi
Fingi que erámos
Sem que olhasse pra mim
E nos sonhos
Fui deitando no meu fim
Espasmos de esperança
Deixei nascer por fim
Em esparsos tempos fecundos
Vi caí meu mundo
A bem-aventurança não vi chegar
Chegou-me o partir
O não ficar
Me rearranjei na estação deserta
Faltou-me flores
A água era incerta
Mas enfim eu descobri
Que o deserto mais espantoso
No entanto está em mim
Em minha cabeça estéril de ilusões
Onde a esperança padeceu
Sedenta e esfomeada
Sem amor e sem paixões
Viu as folhas arrancadas
Encontrou-se com o nada
Nesse árido viver
Agoniou
Levada pelo morrer
Mas não foi assim do nada
Dia a dia
Foi um padecer
A morte do que amava
Pouco a pouco a levava
Talvez assim pense:
Coitada! Teve a morte
Mas não o viver
E usando essas palavras
Respondo sem temer:
Há muitas formas de morrer
Uns morrem nas calçadas
Outros sem conhecer
Um abraço verdadeiro
E morrem por perecer
A morte é simplesmente
Quando parte da gente
Olha na face
Do sonho e por disfarce
Diante do não o ter
Sorri enquanto se desfaz
Impregnado da dor
Do fim do amor