Cidade de Concreto No alvoroço do dia na cidade urbana Na cidade de concreto de lama e trena Falta-nos o cantar do galo, trinado e trema E casas coloridas, pequenas lado a lado; Uma mata, um gavião, o sururu acinzentado. Nas noites em que a lua nos deixa sozinhos, A viola é largada, não há canto de passarinhos. Nem sapos a coaxar em nenhum cantinho. A televisão é o presídio e quase um suicídio De tantas situações que nos deixa arredios As coisas mudaram, gatos não comem ratos. Pela manhã pássaros cantam nos sombreiros, E pombos voam sempre, por cima dos prédios. Os pés de azeitonas doces enfeitam os chãos, Na cidade garças viajantes visitam os rios.