OVOS E MAR

OVOS E MAR

 

Os ovos sempre se mascaram,

Quando a casca não trinca,

Mas só transpiram e exalam,

Onde um saci for mandinga.

 

Se a casca é dura e de cor,

Não importa de qual jabuti,

E se vem a serviço do amor,

É porque merece isso aqui.

 

Só não queira ser ovo goro,

Que só serve para ter adubo,

E não vá batê-lo num bolo,

Pois será diarréia ou luto.

 

Mas eu posso ser ovo de ave,

Para signos de terra ou ar,

Pois viajo na água que sabe,

Como gotas que enchem o mar.

 

Mas a vida é muito mistério,

E transformam até meu olhar,

Pois a vida é algo tão sério,

Despertando meu fundo de mar.

 

Lá também nós temos vulcões,

E achamos aves como arraias,

Mas também temos os corações,

Das baleias que vêm à praia.

 

Nesse mar há cavalo e agulha,

Com martelos, enguias e lulas,

E se guarda minério e fagulha,

Das estrelas e todas as luas.

 

Vem de lá o segredo da vida,

Sai de lá os suspiros da terra,

E o suor como chuva convida,

Até quando salpica a conversa.

 

Somos quase os únicos espaços,

Mas não acho estarmos sozinhos,

Onde todos relógios são traços,

Do que pode haver nos caminhos.

 

Mas o eterno é força e tempo,

Gravitando até mesmo calado,

Ou rasgando a tudo com vento,

Sem a pressa de um convidado.