RUSGAS HUMANAS E O MAR

RUSGAS HUMANAS E O MAR

 

Já me disseram: "Deves navegar!",

Mas logo pensei: E o medo do mar?

Se barco afundado não vê o luar,

Só a concha seria o meu canzuá.

 

Eu lembro nascer longe d'água,

Embora só não entenda meu rio,

Mas somos feitos à base d'água,

E sem ela nem há calafrios.

 

Mas um dia eu irei navegar,

Ou voar mais que um albatroz,

Pois a África é no além mar,

E a China me quer logo após.

 

Se eu for mesmo adentrar no mar,

Seguirei pelas bordas de terra,

Procurando por um novo lar,

Mas sei que o mar traz a guerra.

 

São rusgas humanas por terras,

Avistadas por tritões e marujos,

Mas no mar minha vida se encerra,

Escoando em crustáceos e búzios.

 

Nos matamos por inveja e usura,

Latrocídas de moedas e pepitas,

Com a efígie de quem só madruga,

Na ganância das noites malditas.

 

E se for para ter esse destino,

Eu irei abortar minha viagem,

Sem viver meu viés cabotino,

Que disfarça sandice e coragem.