TEMPO NA AREIA

TEMPO NA AREIA

 

Hoje eu observo a ampulheta,

E como o seu tempo é segredo,

Pois tem triturada a receita,

Na areia que foi meu rochedo.

 

Tenho só o tempo da queda,

Que chega cruzando o canal,

Em um tempo que não sossega,

Mas é tempo que como com sal.

 

Já brinquei com pega-varetas,

E busquei equilíbrio ao armar,

Mas sei que detrás da careta,

Tem alguém a querer derrubar.

 

Construir nesse mundo de pressa,

É a proposta da nossa agonia,

Que se encanta com riso e festa,

Ao pensar que só há alegria.

 

O que sei aprendi com a dor,

Desde quando a vida é conflito,

Pois a dor nos faz professor,

E aprendiz com quem eu milito.

 

Com os grãos da areia de mim,

Serei mostra de norte ou sorte,

Ao dizer que já fui ao jardim,

E talvez nada mais me conforte.