Com o tempo
Por vezes me perdi
Por muitas vezes quase enlouqueci
Nem sei se sana estou
Debati-me em total negação
Mesmo tendo ferido o meu coração
Neguei-me regressar para solidão
Mesmo que nunca tenhas tocado a minha mão
Neguei-me por dor
Neguei-me por medo
Vivi no sonho por tanto tempo
Te contei os meus segredos
E não encontrei alento
No regresso a que me obrigou
Foi aos poucos
Foi saindo sem se despedir
Foi me deixando no caminho
Entre espinhos
Foi proferindo poucas palavras
Em outras você gritava
Abrindo meu peito sem faca
E quando vi
Não estavas mais ali
Quantas vezes me afastou
Quantas vezes me silenciou
E eu insisti
Não quis o que estava por vir
Mas sabia o que tinhas pra mim
E não foram poucas lágrimas
Que verteram dos olhos meus
O que de nada valeu
Já que teus olhos não se encontram com os meus
Tais lágrimas apenas acalmaram
Uma alma que se dissecava
A cada vez que me recusavas
Ou de alguma forma me afastavas
Fui sobrando nos braços frios
Renegada ao lugar em que nada
Me aquecia ou alegrava
Fui emudecendo
A coragem perdendo
E como era desejo teu
Tudo meu recolhendo
Depois de certo tempo
De vez era eu
Uma sombra
Um espectro que tímido
Espiava você sem dizer nada
Espiava só pra ver
Como estava você
E em seguida retornava
Silenciosa
Machucada
Para as sombras onde as almas
Tristes e magoadas
Se escondem
Se encolhem
Você se lembra das migalhas?
Eu reclamava
Te dizia que não eram nada
Te dizia que te precisava mais
Hoje nem migalhas
Nem queixar-me posso mais
Só silêncio
Frio
E silêncio de um amor
Que em mim não acabou
Porém, no campo da vida
Murchou
Foi sumindo
Consumindo
Construindo minha dor