DE CIMA DO MORRO EU VI

DE CIMA DO MORRO EU VI

 

Subi no Morro do Totonho,

De onde eu vi uma barragem,

Não sei se foi só um sonho,

Mas era meu mar na garagem.

 

Dali também vi a serpente,

Nas águas que se esgueiravam,

Mas o rio não era corrente,

Pois os cílios não vigoravam.

 

Pelos poços que se formavam,

Tinha o lodo e os pesticidas,

Suas areias os ricos dragavam,

E o fedor de cocô nos trucida.

 

Zona urbana é tão estranha,

Mas em Jequié é fétida dor,

Pois aqui a margem é banha,

Dos porcos que cagam sem dó.

 

Eu não sei o que será pior,

Ao crer nos nossos gerentes,

Pois aqui só me sobra o suor,

Ou a dor que vem entrementes.

 

Tudo aqui sempre foi maquiagem,

Como as praças com seus doentes,

E os passeios que são a garagem,

Mas seu povo só tem indigentes.

 

Fazem condomínios para os ricos,

Pois aos pobres sobra a favela,

Vendem ruas e praças com lixos,

Tudo enquanto vão ver a Portela.

 

Numa cidade sofrida e tórrida,

Cortam a árvore e selam o chão,

Invadem o erário da hemorróida,

E deixam ao povo só uma ilusão.

 

Nos encharcam com tantos edis,

Que se vendem com seus gestuais,

Mas enganam sobre quem nos diz,

Que o certo são esses normais.

 

Não há trabalho pra nove edis,

Quem dirá se forem os dezenove,

Junto aos lobos e eu infeliz,

Pois a vida não se desenvolve.

 

Criaram essa profissão nefasta,

Pois antes era só um altruísmo,

E a herança de Édipo e Jocasta,

Nos diz dos erros e do abismo.