ÉRAMOS TÃO JOVENS

"Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, temos todo tempo do mundo..."

Fragmento de "Tempo Perdido" (1986) — Legião Urbana

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ÉRAMOS TÃO JOVENS

(Renato vive!)

Não tínhamos

ainda a posse

do mundo.

Éramos tão jovens!

A vida mal acabara

de desembrulhar-se,

o futuro

não era presente,

precisávamos embalá-lo

com o papel do amanhã.

Éramos tão inquietos,

e também precoces,

... como semente.

Éramos embrionários,

visionários,

um pouco de videntes.

Ficávamos

a contar horizontes

vendo o sol adormecer.

Cantávamos para ele

uma cantiga de ninar

para sonhar mais feliz

Éramos cantantes,

contentes.

Acreditávamos

que bons sonhos

foram marcados

com estrelas

no céu.

Tínhamos

o sonhar firme,

e eles,

o firmamento.

Ouvíamos dizer,

existia um marcador de azáfamas,

chamávam-no de relógio.

Não entendíamos bem as

questões de urgências.

Éramos atemporais.

Olhávamos o mundo girar.

Ele nunca se cansava,

não ficava tonto?

Éramos ingênuos,

cômicos,

nada astronômicos.

O mundo girou,

com ele nossas crenças

de origami

certamente voaram,

pousaram

na cabeça

de outras crianças,

em suas pequeninas mentes

de tamanho infinito.

A credulidade nunca morre.

Que bom!

Por isso, observamos

nossos filhos

e nos recolhemos

diante da singeleza,

eles são tão inocentes,

ela, tão envolvente...

E nós,

apenas mais um vivente.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 22/01/2023
Reeditado em 22/01/2023
Código do texto: T7701226
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