ANDARILHO E GENTE HUMILDE
ANDARILHO E GENTE HUMILDE
O andarilho beirava a estrada,
Num caminhar sem ter aonde ir,
Só queria uma vida emprestada,
Sem saber quando vai decidir.
Ele via o sol e a lua infestados,
E os mosquitos pelos canaviais,
Sem direito à cana e os caldos,
Mas sujeito ao frio e vendavais.
Serenamente ou de modo valente,
Quem é pobre não tem solução,
Pois é sempre o lado ausente,
De um povo que se diz cristão.
Lá na Galiléia havia um crente,
E seu nome era João, o batista,
Pelo Judéia ele foi penitente,
Com o deserto como seu analista.
Se era um louco, só ele sabia,
Pois todo profeta é descartável,
E por tão pouco ele foi heresia,
E Herodíade o tornou execrável.
Gente humilde vive de chicotada,
Seja agora ou nos dias do Egito,
Como preço por cebola ou cevada,
E a carne de um cordeiro aflito.
São histórias de um maltrapilho,
Pois é isso enquanto ele definha,
Como música de certo estribilho,
Onde o enterro será na lapinha.