O JARDINEIRO E O OBSTETRA
O sol mal havia
se espreguiçado,
ele já estava
com as flores
em desvelado ofício,
acariciando suas crias.
A atmosfera respirava
uma essência pueril,
fragrâncias se imiscuiam
entre pétalas recém-chegadas.
Logo vieram as abelhas
com suas sacras polinizações,
pássaros debulhavam cantos alvissareiros,
anelídeos se lambuzavam de adubo,
Joanas e joaninhas passeavam
despreocupadamente
na casa que era de todas as mães.
Um vivente apaixonado
aproximou-se,
pretensamente furtivo,
levou uma das rosas,
Ele o observou nos olhos finos,
calou-se nas vistas grossas,
não haveria
de desembainhar recusas
aos remetentes do amor.
Não tardou
um pintor
veio
com tintas e pincéis
perfumar suas telas.
Até o poeta
parecia cultivar verves
nas folhas verdes
das garridas margaridas.
Das flores e dos acordes
a estação, já desperta,
tocava uma música,
e a música, tão certa,
tocava naquela estação
primaveril
e naquele coração.
febril.
O dia começava a apresentar suas horas,
quando ele notou
a presença
de um homem
de jaleco
em caminhada
apressada para o nascedouro.
Houve tempo de trocarem soslaios,
entre a azáfama de um e a pachorra do outro.
Sorriram-se,
secretamente,
reconhecendo
suas missões
e seguiram os destinos,
em busca dos seus úteros.
É...
Nesta terra,
maternal,
havia muita vida,
presente e futura,
para se cuidar...