DOLOROSAS
No tempo da existência
eu nascia em seu beijo,
padecia nas partidas,
ressuscitava nos regressos.
Sua língua
me ensinou
a linguagem do amor,
e de tantas flexões
me fiz oralidade.
Teu corpo
apresentava-me
labirintos
onde
sempre me perdia
no desejo inconcluso,
sinuoso,
as curvas
tangenciavam
sua carne,
a sua cerne.
Era ateu e a toa;
sagrado e desgarrado
dos momentos
de comunhão,
a pele nua,
na lua
lhe via
de relance,
tez efêmera
da fêmea
de nuance.
Fiz-me conjugação
e tudo era infinito
no infinitivo
do amar.
No tempo da existência
ainda não
conhecia sua ausência.
Um dia
ela veio
fria, inerte,
definitiva ...
etérea
E passei a conhecer
as dolorosas presenças
da saudade e
do adeus
que não pude lhe dar.