HOMEOPATIA
Naquela localidade,
onde as horas
se converteram em invisibilidades,
não havia relógios,
nem conceito existia sobre eles.
O tempo era contado
pela quantidade de aguardos.
A moeda de troca
era o esperar :
o pôr do sol,
o ciclo das marés,
a visita da amada
o primeiro beijo...
tudo meticulosamente
calculado
pela sonolência
dos acontecimentos.
Sonhos e realidades
foram gestados no mesmo útero
e caminhavam lado a lado
sem pressa de chegar.
Para que lhes serviam
o tal de açodamento ?
Apenas o adoçamento
lhes tinham serventia.
A vida vivia em constante
engarrafamento
em goles e doses da eternidade de um bom vinho.
A carraspana durava
o tempo dos próprios
desatinos,
a ressaca,
resignada,
se ressecara
por alí.
O existir
parou e ficou por lá,
a morte
parece
que firmou contratos
de paciência
com a longevidade.
E sendo assim,
tudo estava na mesma perfeita
ordem cósmica.
Esquecendo-se
de morrer,
viviam apenas no esquecimento
da temporalidade
das suas homeopáticas existências.