O último natal a teu lado

O último natal ao teu lado,

Eu tão exposta e tu como sombra, ocupado e ocultado,

O destino nos porá em rumos contrários?

Deixar-te ir é afastar-me de mim mesma, é reescrever a história duma obra que em brasas me marcou,

Dizendo-a mim mesma: Não foi nada demais, ou foi bom enquanto durou.

Ir-se daqui é levar-me de mim, embora ao pedir a Deus a mudança desta sorte, não seja claro o fulgor do brilho de

tua permanência se comparado à tua ausência.

Custou deixar-te-me tocar e igualmente custa, o choro do desapegar.

E agora o mais versado advogado parece incapaz de mudar nossa sentença e o único memorial que terei de ti será uma imagem, congelada num retrato.

Aceitar isso já é o início de um coração desfigurado.

Como te prenderei então aqui, se não sei com que cara irei eu te visitar?

Talvez mal te despeças e me porei a festejar.

Com que cara irei te visitar?

Talvez com o rosto em véu tapado.

Choro de quem perde um ente querido

E de quem anda a esmo ao vagar

Vagarosamente notando a única coisa que falta

Quando tudo o mais está no lugar

E por isso mesmo, toda a ordem se desfará.

O ser e o não ser coabitam o mesmo lugar

E altura com que a baixeza se estima

São a paz pressupondo rendição à horda inimiga,

De quem já se despediu para à força se calar.

Pois tem como fazê -lo ficar?

Sente ainda haver nele algo a mais que lhe está a chamar?

Com que então fazê-lo ficar?

Lirianna
Enviado por Lirianna em 26/12/2022
Reeditado em 26/12/2022
Código do texto: T7680148
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