POUCOS SÃO GENTE
POUCOS SÃO GENTE
Pensei em ver mais longe,
Quando subi num velho farol,
E o açoite do mar e do monge,
Me salgavam ao brilho do sol.
Voltei a olhar outras margens,
Onde a África é o meu estudo,
E senti o passado e as viagens,
Antevendo dois lados do muro.
Tudo de antes era interligado,
África dejunto com a América,
Mas pra cá trouxeram o gado,
E o atraso de gente colérica.
Invadiram e já foram matando,
Vitimando povos originários,
E deram a cada preto um fardo,
Para viver de modo ordinário.
Aqui sucumbe só gente escravo,
Ou quem seja um vil degredado,
Pois o resto é branco eslavo,
Ou um nobre europeu assentado.
Uns poucos querem ser gente,
Onde a maioria é tragicômica,
E na falta de cada indigente,
Vieram donos da era atômica.
Tudo soma para a nobreza,
Que se acha a divina dona,
Mas daqui nem levam a mesa,
Se antes cagam numa redoma.
E apodrecem sem ter exceção,
Quando não vão ser cremados,
Mas assim fez o povo alemão,
Tudo em nome do Deus Estado.
Me disseram: obedeça à Lei!
Mas só a Deus eu sou obrigado,
Por que Deus é tudo o que sei,
E com ele eu ando, voo e nado.
Se num dia me chicoteiam,
Na tortura que me indigna,
Noutro dia já me dilaceram,
E me tiram a auto-estima.
Mas vou em busca de justiça,
Vou perante a gente honesta,
Vou cançado de tanta injustiça,
E fujo léguas de quem não presta.
Dizem que mentira tem perna curta,
E quem se arruma demais tenho medo,
Se aquele passeio cheio de murta,
Não tem sombra nem tarde ou cedo.