SÚPLICA
Saudade tenho
dos tempos do silêncio,
não precisavas desperdiçar-te
em palavras.
Teus olhos já
comunicavam os desejos,
o sorriso denunciava o prazer,
O beijo, ah, o beijo!
Este era a soma de todos os verbos,
me conjugava
na gramática de tua língua
vernácula em todas as formas,
tempos e modos de sedução.
O orgasmo,
consequência inevitável!
Já haviam por demais testemunhas
para roubar-nos a voz:
os lençóis,
se lambuzavam das seivas que deixávamos em desatada volúpia,
travesseiros
se recolhiam
a circunstanciais
inoperâncias.
Não havia descanso
que não pudesse esperar!
O dia esgarçava seu tecido lentamente
sem que pudéssemos
perceber a textura da tarde ...
ou o véu da noite.
Tudo mais
era a moldura do infinito,
desenhando-se no entorno do quarto.
Mas o tempo
encarregou-se
de trazer suas ausências.
Hoje,
percebo que necessito
da palavra obedecida,
pelo menos
de uma delas para ser feliz de novo:
"Volta!"