SÚPLICA

Saudade tenho

dos tempos do silêncio,

não precisavas desperdiçar-te

em palavras.

Teus olhos já

comunicavam os desejos,

o sorriso denunciava o prazer,

O beijo, ah, o beijo!

Este era a soma de todos os verbos,

me conjugava

na gramática de tua língua

vernácula em todas as formas,

tempos e modos de sedução.

O orgasmo,

consequência inevitável!

Já haviam por demais testemunhas

para roubar-nos a voz:

os lençóis,

se lambuzavam das seivas que deixávamos em desatada volúpia,

travesseiros

se recolhiam

a circunstanciais

inoperâncias.

Não havia descanso

que não pudesse esperar!

O dia esgarçava seu tecido lentamente

sem que pudéssemos

perceber a textura da tarde ...

ou o véu da noite.

Tudo mais

era a moldura do infinito,

desenhando-se no entorno do quarto.

Mas o tempo

encarregou-se

de trazer suas ausências.

Hoje,

percebo que necessito

da palavra obedecida,

pelo menos

de uma delas para ser feliz de novo:

"Volta!"

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 17/12/2022
Código do texto: T7673918
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