O MURO DIVISA OS LADOS
O MURO DIVISA OS LADOS
Entre pontos e vírgulas do muro,
Vejo as reticências no horizonte,
Como o uivo de lobos no escuro,
Geram raios da lua na fronte.
São reminiscências das sombras,
Ou as regras de mil pesadelos,
Do rio que não tem mais lontras,
Ou do milho que vem sem cabelos.
A coluna que serve aos prédios,
Vê no muro a divisa dos lados,
Mas alguém vai ter nos remédios,
Seu direito de crer em finados.
Já eu quero buscar algo eterno,
Desde que valha a pena viver,
Não apenas dizendo em cadernos,
O que devo, mas não sei dizer.
Nessa vida não valho o tempo,
Se o tempo não vale o viver,
Pois a vida só vale no vento,
Que eu sopro para sobreviver.
Só há mundo sem as barreiras,
Onde muros são erros humanos,
Porque todo disco tem beiras,
Mas o giro renova meus planos.
Nessa busca por céu e razões,
Quero só me esconder da inveja,
Pois a discórdia entre corações,
Só nos faz divergir na entrega.
Mesmo assim serei inventário,
Do que fiz na cama e na mesa,
Ou deixando meu documentário,
Revestido de graça e certeza.
Sei que vão duvidar do que digo,
Pois o mal ainda quer ser algoz,
Mas na fé sou moderno e antigo,
Como o bem que é manso e feroz.