ABDUÇÃO
Certa vez
encontrei uma bruxa,
enfeitiçou—me
de tal forma,
algemou
minh'alma,
senti-me
embriagado,
desabrigado
de minhas
emoções,
inerte
na cadência
dos teus movimentos
faciais.
Tua boca
emanava um fluido
paralisante,
me entreguei
àquele ritual,
não havia mais forças
para resistir
mais do que uma amostra,
era uma poção ...
jamais experimentada.
E ao sorvê-la,
desfaleci,
ela penetrou
no âmago
do meu corpo,
tatuou sua imagem
na minha memória,
senti o quão
era poderosa
em seus propósitos
e despropósitos ...
Eflúvia!
Acordei desnorteado,
ela já não estava lá
minha alma também não,
abduzida que foi.
Deixou-me em troca
meu lado mais vazio,
vulnerável
como um doce anátema
de uma noite
inquietante.
Todos os dias,
saio a procurar-me
nas baldeações,
olho para céu
talvez ela esteja lá
atrás de alguma estrela
cadente,
carente.
Um dia anseio
pela restituição anímica,
enquanto isso
tento achar
na perplexidade
dos meus devaneios
algum resquício
daquele beijo.