ABDUÇÃO

Certa vez

encontrei uma bruxa,

enfeitiçou—me

de tal forma,

algemou

minh'alma,

senti-me

embriagado,

desabrigado

de minhas

emoções,

inerte

na cadência

dos teus movimentos

faciais.

Tua boca

emanava um fluido

paralisante,

me entreguei

àquele ritual,

não havia mais forças

para resistir

mais do que uma amostra,

era uma poção ...

jamais experimentada.

E ao sorvê-la,

desfaleci,

ela penetrou

no âmago

do meu corpo,

tatuou sua imagem

na minha memória,

senti o quão

era poderosa

em seus propósitos

e despropósitos ...

Eflúvia!

Acordei desnorteado,

ela já não estava lá

minha alma também não,

abduzida que foi.

Deixou-me em troca

meu lado mais vazio,

vulnerável

como um doce anátema

de uma noite

inquietante.

Todos os dias,

saio a procurar-me

nas baldeações,

olho para céu

talvez ela esteja lá

atrás de alguma estrela

cadente,

carente.

Um dia anseio

pela restituição anímica,

enquanto isso

tento achar

na perplexidade

dos meus devaneios

algum resquício

daquele beijo.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 13/12/2022
Código do texto: T7671341
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