ERA APENAS NOSSA SALVADOR

ERA APENAS NOSSA SALVADOR

 

Disparou uma sirene à noite,

Será fim de turno ou assalto?

Mesmo quando é som de açoite,

Ou descanso no carro lotado.

 

Tinha um túnel com um metrô,

Mas não era Paris ou Londres,

E era apenas nossa Salvador,

Nos Barris de trilho e bonde.

 

Mas o som agora é repique,

De atabaque ou cada tambor,

Com orixás no meio do dique,

E o Bonfim de Nosso Senhor.

 

Chega a hora e ele só chora,

Mas eu lhe disse onde orar,

Pois o caboclo sabe a hora,

E o Campo Grande é o lugar.

 

Ali também andou Castro Alves,

E me lembro de Jorge Amado,

Pois eu subi o Plano Gonçalves,

A olhar por sobre os sobrados.

 

Tomam água de coco na Barra,

E o vatapá é no Mercado Modelo,

Só não há mais touro em Navarra,

Se na Bahia a ginga é o cabelo.

 

E morar no Garcia, perto do vale,

Nos faz estudar até pra doutor,

E o povo a querer vida de baile,

É como se fosse só fé e andor.

 

Era tanto convento e oratório,

Que todo colégio tinha menino,

E se a baía tem um promontório,

Lá da praia eu ouço o sino.