À PALAVRA

Não tenho toda palavra,

sequer de uma única

lhe tenho pertença.

Convenço-as

— nem sei como —

a participarem

dos escritos.

São elas

que de mim se apropriam.

Me ensinam tudo

o que ainda não sei

e nunca saberei,

Minha sede

de ignorância é infinda,

como infinitas são

nossas cumplicidades.

Palavra e escrevedor

assim nasce o verso,

arroubo de inspiração,

quem sabe

num roubo de ilusão.

Somos

una matéria :

ela me completa

eu a contemplo;

ela me assoma,

eu assumo

suas vestes

usurpando

as agulhas

para tecer

outros figurinos.

E vou-me indo

por suas

bem traçadas

linhas,

tentando

achar o que nunca

se perdeu,

e tudo o que me

fez me perder

na sua estrada.

Nela

mero caminhante sou,

a palavra, esta sim,

autônoma,

automotiva,

me motiva

e ser

o exercício

inacabado

de um poeta solitário,

refém das formas

gráficas e iconográficas

de seu corpo.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 11/12/2022
Reeditado em 12/12/2022
Código do texto: T7669881
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