ALÉM DA DESCRENÇA

ALÉM DA DESCRENÇA

 

Quando a língua não nos distingue,

É porque virou olfato de víbora,

E quem não sabe usar estilingue,

Corre risco no ardor da urtiga.

 

Teve o tempo de ser caçador,

Mas também teve dia o escambo,

Como houve eu ser agricultor,

Se a polícia não me fez Rambo.

 

Tem pessoas a querer arquétipos,

E só fazem o que vê pelas telas,

E trabalham num modo sincrético,

Que esquecem do que lhes espera.

 

Todos vamos findar na velhice,

Desde quando o balde não entorne,

Já que uns nem sabem o que disse,

Ao defunto que não foi ciborgue.

 

No futuro nós seremos longevos,

Pelo avanço de toda a ciência,

Mesmo assim meus poemas entrego,

Como marcas de minha querência.

 

Meu rincão não será meu remanso,

Mesmo que não mais me pertença,

Pois a sina de todos os gansos,

É ser estrada além da descrença.