VOZES ECOANDO
VOZES ECOANDO
O pão já não está nas mesas,
Mas a festa ainda nos engana,
Tudo isso enquanto há surpresa,
E o louco me diz que é bacana.
Vai ter dia pra tudo no mundo,
Pois a vida é nascer e morrer,
Vêm sóis pra dizer que tá fundo,
No abismo que não tem porquê.
Somos todas as vozes ecoando,
De quem vive e de quem viveu,
Somos quem ainda é um plano,
Ou até como agiu Odisseu.
Nós vivemos em meio à tormenta,
Seja em Tróia ou longe de Ítaca,
Sendo um fardo ou uma encomenda,
Sem saber qual a razão não dita.
Sei que um dia eu vi meu bilhete,
Colocado numa garrafa e boiando,
Mas Netuno não me deu seu aceite,
Por eu ter bem mais de mil anos.
Tudo é festa quando há beira mar,
Desde quando um rio lhe provoca,
Pois não devo mais me enganar,
Mas retirar o lixo da pororoca.
Só assim os botos vão respirar,
E achar que mereço o meu ócio,
Pra poder reunir-me com o mar,
Que não é só um reles negócio.
E Penélope poderá me dizer,
Se valeu a pena me esperar,
Quando o tempo me envelhecer,
Desde quando eu fui guerrear.
Não entendo nem minhas razões,
Pra matar ou viver de impedir,
De não crer por não ter visões,
Do meu zênite oposto ao Nadir.
Só estando no meio de tudo,
Não garante saber qual tempero,
Nem o sabor do que é escuro,
Pois a luz me acorda tão cedo.