TÃO TARDE
Eu bato o portão
sem fazer alarde
eu levo a carteira de identidade,
uma saideira,
muita saudade
e a leve impressão
de que já vou tarde.
Fragmento de
Trocando em Miúdos
(Chico Buarque e Francis Hime)
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TÃO TARDE
Ainda procuro encontrar-me
entre as frestas das minhas dúvidas.
Responder perguntas
que o silêncio
deixou para trás.
Interrogo-me
no vazio
daquilo que supus
preencher
e arrogo-me
como numa
penitência sem fim.
Quem sou eu, afinal ?
O que os versos pretendem de mim?
Ressuscitar fantasmas insepultos?
Ainda que que a manhã
tenha saído do útero do firmamento,
já se esvai o dia,
minha existência,
credulamente,
o acompanha.
Eu sigo
persigo,
ou fujo,
tanto faz,
com aquela
impressão,
não tão leve,
de que já vou tarde.