O MODO DA CORTE

O MODO DA CORTE

 

Às claras minha pele reluz melanina,

E a marca do cheiro é suor do verão,

Por causa do sol na hora matutina,

Que vem angular sobre a minha visão.

 

Quem nasceu nos fiordes do polo,

Tem olhos claros, mas não tem leão,

E faz seus disparos com Marco Polo,

Roubando da China até o macarrão.

 

A pólvora veio e o negro sofreu,

E Leopoldo comeu carne humana,

Lá roubando cada flor que morreu,

Pois no baobá ela tem breve fama.

 

Todos os dias agora são de conflito,

Ao criar datas querendo o respeito,

Desde quando há tortura e um grito,

Dos mártires mortos sem um leito.

 

Ainda ocorrem chacinas sem termo,

Numa escola, garimpo ou no morro,

Esquartejados, se vão num despejo,

Enquanto os pobres pedem socorro.

 

Sempre foi esse o modo da corte,

Com diásporas e gente sofrendo,

Pois se acham ser donos da morte,

Mas a espora do tempo é veneno.

 

Ninguém será feliz para sempre,

Porque felicidade não é só ter,

Mas a mãe entende o seu ventre,

Que lhe faz feliz por só ser.

 

Se eu for novo ser noutra vida,

Quero ser a barriguda ou mulher,

E poder me sentir tão parida,

Ou ter a água que tanto se quer.

 

Mas enquanto o futuro não define,

Eu tento ser meu próprio conselho,

Pois ninguém o consegue num cine,

Se o filme é diante do espelho.