JARDIM ENTRE UR E PINDORAMA

JARDIM ENTRE UR E PINDORAMA

 

Certa vez adentrei num jardim,

Com cores e flores de outrora,

Mas tinha o cheiro de jasmim,

Onde Nabucodonosor jaz agora.

 

Era na Babilônia da escrita,

Pois antes tudo era na voz,

E o modo cuneiforme na cripta,

Revela como um rio vai à foz.

 

Lá se viam o Tigre e Eufrates,

Com seu reino entre esses rios,

Mas deserto é cabeça de frade,

Que aborta até o camelo no cio.

 

Naquele oriente cheio de intrigas,

Haviam mais povos acima de Ur,

Mas eu não estive em suas brigas,

Porque minha África é mais ao sul.

 

Eu sei que o Egito não é Ásia,

Mas ele eu acho no Mediterrâneo,

Perto de Tiro e longe da Trácia,

Berço do Nilo e não de um cubano.

 

Os jardins do caribe são beiramar,

Mas rega a seara com vento e sismo,

Na zona abissal em fundo de mar,

Onde as ilhas escondem o abismo.

 

Então fui buscar o meu Pindorama,

Ver botos e cada baleia jubarte,

Montar cachalote que leva a fama,

De ser Mobi Dick em tela de arte.

 

Cheguei preguiçoso aqui na Bahia,

Depois de suar ao sol tropical,

Mas fui ansioso por ter fantasia,

E fiz uma rede com fio de sisal.

 

E aqui tive sonhos e felicidade,

Até que um dia chegou o europeu,

Que sempre viveu em suas cidades,

Enquanto que eu não via Prometeu.

 

Um índio não quer ter sagacidade,

Mas toma seu chá e abraça o mato,

Perdura num corpo sem a vaidade,

Se pinta por não querer carrapato.

 

Um índio é o mesmo que viveu antes,

Chegou da África, mas não pelo mar,

Cruzou pela Índia ou foi navegante,

Desceu pela América e veio sambar.

 

Brincou com o feitiço de Áquila,

Porque se tornou um velho pajé,

Não quis a espada ou a máquina,

Para ser feliz e por andar a pé.