POSITIVISMO DA BOCA PRA FORA

POSITIVISMO DA BOCA PRA FORA

 

Nesses dias cercados de positivismo,

Tudo é desordem vestindo progresso,

E as ruas que servem ao capitalismo,

Nem têm passeios que sirvam de acesso.

 

Constroem casas despidas das ruas,

As quais têm rampas só para carros,

E esquecem que a gente também atua,

E as ruas não são só vias de barro.

 

Os tempos de ordem não me agradam,

Pois lembro dos erros clericais,

Onde os conventos nos enganavam,

Pregando o que não faziam jamais.

 

Mataram a Joana com as labaredas,

Flecharam até mesmo São Sebastião,

Lembrei de termópilas como veredas,

E de quem se esqueceu do coração.

 

Talvez merecêssemos um lar verdadeiro,

Mas o próprio nome o Brasil desconhece,

E ficam dizendo que não quer vermelho,

Com verde/amarelo servindo de prece.

 

As casas reais que nos comandaram,

Tinham suas cores e suas bandeiras,

E nosso passado não é como contaram,

Se a mãe preta não foi companheira.

 

A escravidão ainda é nosso emblema,

Pois até laranjada é briga na feira,

Se um preto rico é sujo ou esquema,

Índio é preguiça de rede e esteira.

 

Será que um dia seremos cristãos,

Se hoje nós somos só um arremedo,

E teremos partilha de mel e de pão,

Morando na taba com fé e sem medo?

 

Como a hipocrisia cá nos conflita,

Somos sem valores e irresponsáveis,

Se na eucaristia a vida é bendita,

Mas, logo após, somos deploráveis.

 

Da boca pra fora serão todos salvos,

Mas o coração lhes renega o divino,

Então, eu vos digo: Um dia é raro!

Por isso façamos um melhor destino.