DEPOIS DO INÍCIO TUDO É SINA

DEPOIS DO INÍCIO TUDO É SINA

 

Não sei porque temos fins e meios,

Se depois do início tudo é sina,

E eu sou bebê sem leite dos seios,

Porque tudo é mais com a medicina.

 

Vim da época da galinha caipira,

E a feira não era em supermercado,

Pois a mercearia não tinha a fila,

Onde o crediário era descomplicado.

 

Eu falava direto com o dono da loja,

Pois era ele mesmo quem me atendia,

E a banha não era como óleo de soja,

E o mel de mandaçaia no mato colhia.

 

Tinha aquele porquinho lá no quintal,

Como todo poleiro de galo e galinha,

E lá perto havia um feliz recital,

Com os passarinhos bicando até pinha.

 

As doenças comuns se tratava com erva,

E o café das tardes eu pilava cedinho,

Mas era em merendas da fome tão certa,

Que a mãe chamava com bolo e leitinho.

 

Com a nossa tevê de marca Canarinho,

Sem cor, pois só era o preto e branco,

Eu via os homens de terno de linho,

Mas nada dizia, se a moda é tamanco.

 

Na calça jeans tinha boca de sino,

E toda blusa era aberta no peito,

Mas foi proibido se ir ao cassino,

E o rock chegou pra mudar o sujeito.

 

Os tempos de agora não pedem a benção,

E ninguém mais senta em cada varanda,

Pois a violência fechou meu portão,

E hoje ninguém brinca mais de ciranda.

 

É tudo lavagem cerebral e consumo,

Pois dizem que armas trazem a paz,

Mas vejo a morte tomar novo rumo,

E ceifam o velho e também o rapaz.

 

De volta o fascismo o fim se anuncia,

Pois é muita sandice servida ao povo,

Com o risco de seitas em apostasia,

Louvando os mitos de um gado novo.