A INQUIETUDE DA IDADE

A INQUIETUDE DA IDADE

 

Quando ainda perdura a mocidade,

Pode vir uma mudanças de planos,

E seria apenas hormônio e vontade,

Sem a consciência do que exultamos.

 

E quando não chega a felicidade,

Será porque a morte abraçamos,

Com os conflitos no vão da cidade,

Ou em esquinas que nunca passamos.

 

Não haveriam segredos nas tardes,

Mesmo perante uma noite premente,

Se nas manhãs eu serei a saudade,

Quando o tempo já me for ausente.

 

Me resta a inquietude da idade,

Desde quando foram muitas vidas,

E no aguardo de uma cumplicidade,

Fui de fato quem sempre duvida.

 

Sempre estive em louca procura,

Mesmo quando era verão em Cartago,

Com as praias de areias escuras,

Ou água nascente do Kilimanjaro.

 

Vi o safari, mas vivi como caça,

Fui amigo do leão que me alcança,

E fui uva de um vinho na taça,

Que embriaga caçador e a lança.

 

Depois disso, cruzei os Alpes,

E entrei pela planície etrusca,

Vi os latinos e dormi no catre,

Quando ainda não havia o Fusca.

 

Tirei leite da loba de Remo,

Quando Rômulo chorou de fome,

Fiz Aníbal ver o frio extremo,

Com seus elefantes sem nome.

 

Fiz na guerra uma busca por paz,

Mesmo quando isso era comércio,

Mas foram lutas que hoje me traz,

As memórias que falei a Lupércio.

 

Foi assim que também fui pastor,

E as ovelhas se agradam da flauta,

Quando soprei ao ninar um castor,

Que cansou de roer lá na mata.