MEU RIO QUER SER OCEANO
MEU RIO QUER SER OCEANO
Após toda a minha caminhada,
Chega a hora de voltar ao cosmo,
Não como astronauta ou fada,
Mas sendo a mistura que posso.
Olhei para trás, vendo o tempo,
E tudo que fiz pelo caminho,
Em cada passo na areia ao vento,
Ou como a onda no pergaminho.
Lembrei das dores de um parto,
E da minha bacia sem placenta,
De quando fui quedar no quarto,
Ou na sacada da nossa fazenda.
No arco-íris vi cada imagem,
Das artes que fiz no quintal,
De jogar a bola numa garagem,
Ou a dor quando fui ao hospital.
Deparei com meus rins reclamando,
E a vertigem por ter embebedado,
Com o desespero de estar amando,
Sem me ver como um namorado.
Relembrei de viver estudando,
E ensinando aos colegas também,
Do trabalho que foi me ferrando,
Perguntando se haverá um amém.
Mas agora entendi todo preço,
De viver sem poder levar algo,
Pois matéria só tem endereço,
Para quem quer viver de calvário.
Só então vou pegar uma senha,
Mesmo ante a turba que empurra,
E a fila que anda sem ter pena,
Pois a insanidade é tão burra.
Sei que nada tem volta e deságua,
Pois meu rio quer ser oceano,
Sendo leite de um choro sem mágoa,
Como lágrimas de um nobre baiano.