DESAVISO

Tu

partistes

como névoa

fria da manhã,

se dissipando

sob os primeiros calores.

Respirei tua ausência,

asfixiei-me de solidão.

Afaguei teu retrato

fugidio

dentro da moldura do abandono.

Ofegava-me

a tristeza,

mas lágrimas já não haviam:

se ressecaram de desilusão.

Para que chorar ?

A saudade costuma

corromper o pranto,

em algum conluio

com a ilusão.

Os dias vazios se amontoavam,

arregaçavam

as mangas do tempo.

Parece que ainda vejo

a penumbra dos teus

passos,

o sorriso esgueirando-se

do meus olhos,

tua boca em lonjuras

dos meus lábios.

A esperança

teima em ressuscitar

de covas insepultas

pelas lembranças.

Eu sei que ela

ainda está lá,

a colecionar

pirracentas invisibilidades.

Não faz mal!

Que mal há!?

Já institucionalizei

minha espera,

adestrei as expectativas,

só faltou mesmo

ter perguntado o teu nome,

e de todas as outras

que passaram

por mim

enquanto eu,

desavisado,

dormia,

e me recusava a acordar.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 18/10/2022
Reeditado em 18/10/2022
Código do texto: T7630728
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