DESAVISO
Tu
partistes
como névoa
fria da manhã,
se dissipando
sob os primeiros calores.
Respirei tua ausência,
asfixiei-me de solidão.
Afaguei teu retrato
fugidio
dentro da moldura do abandono.
Ofegava-me
a tristeza,
mas lágrimas já não haviam:
se ressecaram de desilusão.
Para que chorar ?
A saudade costuma
corromper o pranto,
em algum conluio
com a ilusão.
Os dias vazios se amontoavam,
arregaçavam
as mangas do tempo.
Parece que ainda vejo
a penumbra dos teus
passos,
o sorriso esgueirando-se
do meus olhos,
tua boca em lonjuras
dos meus lábios.
A esperança
teima em ressuscitar
de covas insepultas
pelas lembranças.
Eu sei que ela
ainda está lá,
a colecionar
pirracentas invisibilidades.
Não faz mal!
Que mal há!?
Já institucionalizei
minha espera,
adestrei as expectativas,
só faltou mesmo
ter perguntado o teu nome,
e de todas as outras
que passaram
por mim
enquanto eu,
desavisado,
dormia,
e me recusava a acordar.