NO MEU TEMPO DE ÍNDIO
NO MEU TEMPO DE ÍNDIO
Caso a vida viesse no início,
De um mundo arcaico e sem nós,
Eu queria viver sem suplício,
Suplantando a panela dos sóis.
Sei que nosso planeta é jovem,
Comparado com as mil dimensões,
Mas das luas que vi em desordem,
Sou só uma a medir estações.
No meu tempo de índio na taba,
Contei ciclos de sol e de dias,
Sempre olhando pra via de nata,
E contando com as três Marias.
Vi cometas cruzando o hemisfério,
Com o impacto de mil meteoros,
Pois o meu planetóide é sério,
Qual Plutão ou até meus esporos.
Se já fui centopéia eu não sei,
Mas eu fui tudo que é necessário,
E por isso eu sou pedra de lei,
A reinar sem visar ter denário.
Eu morri como algum Alexandre,
Despojado de ouro e de orgulho,
Pois doei minha casa de cágado,
Muito antes do último mergulho.
E depois, retornei ao início,
Me esquecendo para sobreviver,
Como novo ente vivo e benício,
Sem malícias a lhes escarnecer.
Mas quem pensa que eu sou louco,
Só precisa vir comigo caminhar,
Lendo o sal que eu uso tão pouco,
Num tempero de letras com o mar.