PROCISSÃO

Houve um tempo

em que o silêncio

andava à espreita

da paz,

os olhares

emprestavam

mutuamente

seus encabulamentos,

bocas

jaziam,

exaustas,

de tanto emudecerem.

Apenas as aves

rasgavam

o tecido das águas

com movimentos

graciosos,

de uma delicadeza

respeitosa.

Éramos todos

alados,

voando

para alguma espécie

de vazio.

Não havia

de nada mais

precisão,

apenas

procissão :

de fé,

de pé,

de sol,

tão sós,

no crepúsculo

sem fim,

calados

colados

por suas almas

famélicas,

cada qual

à procura

do seu Deus,

nas frestas

que o silêncio

ia deixando par trás.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 09/10/2022
Código do texto: T7623358
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