PROCISSÃO
Houve um tempo
em que o silêncio
andava à espreita
da paz,
os olhares
emprestavam
mutuamente
seus encabulamentos,
bocas
jaziam,
exaustas,
de tanto emudecerem.
Apenas as aves
rasgavam
o tecido das águas
com movimentos
graciosos,
de uma delicadeza
respeitosa.
Éramos todos
alados,
voando
para alguma espécie
de vazio.
Não havia
de nada mais
precisão,
apenas
procissão :
de fé,
de pé,
de sol,
tão sós,
no crepúsculo
sem fim,
calados
colados
por suas almas
famélicas,
cada qual
à procura
do seu Deus,
nas frestas
que o silêncio
ia deixando par trás.