ENTRE VULCÕES, TENDO CONVERSAS

ENTRE VULCÕES, TENDO CONVERSAS

 

Andar pelos campos e pastos,

Me diz que o passado se foi,

Descrito abaixo dos astros,

Em cada batida na pisa do boi.

 

Disseram que um dia aqui foi o mar,

Mas uma erosão aflorou no serrado,

Por causa das dobras em cada lugar,

De placas rachando em cada cercado.

 

Afastaram as terras pra cada lado,

Acabando ou surgindo oceano e mar,

Subindo o vulcão de cone com lago,

Pois foi extinto de tanto golfar.

 

E foi tanta lava descendo o monte,

Que cobriu cidades de ontem e agora,

Por ter a fumaça além do horizonte,

Tragando Pompéia em toda a glória.

 

Seria Hefesto zangado conosco,

Ou só a Mãe Gaia chorando de dor?

Enquanto nós damos só desgosto,

Usando a terra sem dó ou pudor.

 

Apenas queria viver de verdade,

Na taba em que foi minha origem,

Colhendo frutos da vivacidade,

Pisando no chão, além da vertigem.

 

Depois dos desertos da vida e alma,

Me basta o singelo coité de farinha,

Pra ter o pirão e cortado de palma,

Com leite, umbu, cuscuz e galinha.

 

Depois, só meteoros e a lua cheia,

Ouvindo os piados de cada coruja,

Tendo conversas até noite e meia,

Com a chaleira mais limpa que suja.